DESPREPARO DE PROFISSIONAIS DIFICULTA COMBATE AO HIV APÓS EXPOSIÇÃO SEXUAL AO VÍRUS
















18/05/2011 - 19h

Há cerca de dois meses um homem soronegativo que estava de passagem por Santa Catarina foi a uma unidade especializada em aids porque a camisinha tinha rompido durante a relação sexual com uma mulher que vive com HIV. “Não sabíamos como atendê-lo, estávamos despreparados. Orientamos que ele procurasse assistência em Curitiba, onde mora”, conta uma enfermeira que trabalha no local. Ela concedeu entrevista sob a condição de anonimato.

De acordo com recomendações do Ministério da Saúde, para diminuir as chances desse usuário se infectar pelo vírus da aids, ele deveria começar um tratamento com antirretroviral, por tempo determinado, o mais cedo possível, até o limite de 72 horas depois da situação de risco. Esse é o intervalo de tempo entre o contato com o HIV e a efetiva infecção.

A enfermeira catarinense diz que sabia do protocolo. Mesmo assim, afirma que depois de uma reunião com funcionários e a coordenadoria municipal de DST/Aids, a equipe decidiu não fornecer o tratamento. “Como o recebimento de remédios é realizado mensalmente e em número exato para as pessoas que já estão doentes, ficamos com receio de que outro paciente ficasse sem o medicamento”, afirma.

O farmacêutico Marcos Luiz de Carvalho, de um Centro de Testagem e Aconselhamento em Ponte Nova (MG), conta que dois hospitais de referência – um no município em que ele atua e outro em Viçosa - estão concentrando o atendimento de 19 municípios da microrregião. “Dependendo da cidade em que a pessoa mora, leva até uma hora para se deslocar”, explica.

Segundo Marcos Luiz, no próximo dia 25 haverá uma reunião regional para explicar o procedimento de profilaxia a outros municípios para que eles também o executem. “Até agora tivemos em Ponte Nova três usuários com essa demanda. Dois eram de outras cidades.”

Governo federal alega que informou Estados

Segundo Ronaldo Hallal, coordenador do grupo de especialistas que define o consenso terapêutico brasileiro para a aids, em abril do ano passado o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais reuniu-se com representantes estaduais para que eles criassem redes de atendimento. “Adiantamos que haveria a publicação da diretriz sobre esse tipo de profilaxia”, declara.

Mesmo assim, Ronaldo reconhece que os profissionais ainda estão se adequando. “Em algumas regiões do país há uma demora maior, mas isso é compreensível levando em conta o tamanho e as diversidades do Brasil.” Segundo ele, o governo está preparando um material informativo para a sociedade civil e tirando dúvidas dos profissionais de saúde.

O integrante do Departamento de Aids garante que a profilaxia contra HIV depois de relação sexual de risco não prejudica o acesso dos doentes de aids a antirretrovirais, seja nacional ou localmente. “Temos um controle de estoque impedindo que isso aconteça”, explica.

Entenda a profilaxia

O início da profilaxia ao HIV para pessoas que tiveram relação sexual de risco foi definido em conjunto por representantes dos comitês assessores para Terapia Antirretroviral em Adultos Infectados pelo HIV e para Profilaxia da Transmissão Vertical do HIV e Terapia Antirretroviral em Gestantes.

O atendimento inclui o acolhimento do usuário, avaliação da circunstância da exposição ao vírus da aids e do risco de transmissão. Segundo a diretriz, o profissional deve reforçar à pessoa que está atendendo a importância do uso da camisinha nas relações sexuais.

A decisão sobre o início do tratamento temporário com antirretrovirais depende de três questões: o tipo de exposição ao vírus (anal, vaginal, oral), o status sorológico e o pertencimento ou não do parceiro ou parceira a grupos mais vulneráveis, como homens gays e profissionais do sexo. Caso o tratamento seja indicado, deve haver acompanhamento clínico-laboratorial por seis meses.



Fábio Serrato, de Curitiba


O repórter Fábio Serrato cobre o evento com apoio do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde


Dica de Entrevista


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